"À margem do que se possa aparecer"

"À margem do que se possa aparecer"
Vida de gado, Zé Ramalho

sábado, 6 de novembro de 2010

THE LAST AND THE LIST


Último post de uma série de cinco, este é uma despedida. Como não poderia deixar de ser, com a ajuda de “uns camaradinhas” decidi fazer um texto sobre obras e artistas que contribuem para a marginalidade, famosos ou não tão famosos. Foi uma escolha difícil, e muitos ficaram de fora. A ideia agora é que cada um faça a sua lista.

"Classifica-se como pode, mas classifica-se" (O Pensamento Selvagem, de Lévi-Strauss)

La MarginElite

Colagem - Rebeca Penido
1)  Hélio Oiticica: Segundo o La Marginalité é um dos mais importantes artistas da década de 50, Oiticica participou do movimento neoconcretista junto com Amílcar de Castro, Ferreira Gullar e Lygia Clark. Entre os trabalhos mais conhecidos estão os parangolés, que parecem capas e devem ser vestidos. É o autor da imagem que inspirou este blog.

1+1) O Bandido da Luz Vermelha: Por seu estilo debochado e cínico, este filme é considerado um dos marcos do Cinema Marginal ou Marginalizado, expressão mais adequada para o ex-diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, Cosme Alves Netto. Vale lembrar que  o bandido realmente existiu. Seu nome era João Acácio Pereira da Costa (1942-1998) e trazia sempre consigo uma lanterna vermelha. "Acredito que apesar dos 42 anos passados, este filme ainda não tenha perdido a força e a crítica social", conta o designer Gabriel Vieira. Sinopse do filme: De marginal Sobre marginal.

3)  Helena Ignez: Sobre essa baiana, meu amigo Leonardo Freitas, cinéfilo inveterado formado no Cine Humberto Mauro,  e eu concordamos, é a musa do Cinema Marginal. A mulher de todos (1969), filme de Sganzerla, seu marido, é um dos melhores da carreira da atriz. Neste longa, assume a posição de mulher debochada, independente e livre, pois todos os homens são uns boçais. Aliás, mulher de todos para ela deveria ser apelido. 

4) Larry Clark: Martin Scorsese o cita como inspiração para o clássico Taxi Driver e Francis Coppola também paga tributo a ele, como inspirador de O Selvagem da Motocicleta. O fotógrafo e cineasta dirigiu Kids, que o fez ser conhecido também fora dos Estados Unidos. O filme mostra o dia a dia de um grupo de adolescentes novaiorquinos nos anos 90. Sua retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Paris tem acirrado os ânimos da sociedade francesa. Essa foi a dica de Felipe Saldanha, estudante de Artes Visuais.                                                    

C1n(O) Antonioni: Um dos responsáveis pelas renovações formais experimentadas pelo cinema na virada dos 50 para os 60, Antonioni desenvolve o olhar em seus filmes, retratando uma burguesia ociosa perdida em suas futilidades. É também conhecido como o cineasta da incomunicabilidade, da dificuldade de viver. Durante muito tempos seus filmes foram deixados em segundo plano porque eram difíceis de serem entendidos. Com o tempo perceberam que ele merecia um Blow up¹ ².

9) O Marginal (Cd): Se Elis Regina uma vez disse que “ser artista no Brasil é matar um leão por dia”, Cássia Eller os chamou para a ação “Não amarga marginal defende o seu pão no pau”. Música e título do segundo álbum da cantora, lançado em 1992. Outra vez, uma contribuição do meu amigo Saldanha.

7) Poema ‘Cloaca’: Décio Pignatari colocou a Coca-Cola e a Cloaca em pé de igualdade. Preciso dizer mais?!


            Paulo Leminski: O faixa preta de judô era também poeta marginal, e dos bons. Marginal neste caso, porque os poemas não circulavam nos meios tradicionais como as  livrarias e editoras. Ao invés disso, eram mimeografados ou xerocados e vendidos pelo autor. Os poemas de Leminski eram instigantes e carregados coloquialidade e objetividade, isto em plena ditadura. Tradutor de John Lennon, Samuel Becktett e James Joyce, fez letras para as canções de Caetano, em A Cor do Som. Foi ele quem sentenciou uma vez: “Essa idéia ninguém me tira matéria é mentira”. (do livro La Vie em Close)




¹ Blow up: Filme de Antonioni
²  Técnica fotográfica que consiste em ampliar um detalhe, destacando-o.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

POR DENTRO DO CINE SANTA TEREZA


      
Intervalo da sessão
        Quem caminha pelo Santa Tereza, bairro da região Leste, não tem problemas para encontrar o edifício próximo a praça Duque de Caxias. Isto porque todos os transeuntes sabem  informar como chegar até lá. A pergunta, entretanto, pode soar estranha ou ficar sem resposta quando se pede detalhes da sala aos moradores, já que Cine Santa Tereza, “único cinema que não virou shopping em Belo Horizonte” segundo o cinéfilo Pedro Lima, foi desativado em 1980, e só é reaberto durante os cinco dias de Mostra CineBH.
        Fundado em 1944, o prédio foi entreaberto provisoriamente pela Universo Produção para a exibição de filmes nacionais e estrangeiros. Em uma conversa entre uma sessão e outra, a dona de casa Ângela Dias conta que já frequentou o lugar quando ali funcionava uma boate. “Vinha quando era uma casa de shows, mas para assistir filmes é a primeira vez”, diz na fila da ficção “A cópia fiel”, filme de Abbas Kiarostami que tem Juliette Binoche no elenco e foi exibido no sábado às 22h.
       A média de quatro filmes por dia é um desafio a todos, já que a o Cine Santa Tereza não tem rede elétrica, nem iluminação própria. Dias antes do festival uma estrutura é montada pelos técnicos da produtora. No esquema, estão metros e metros de fios para o projetor, aparelhos de ar-condicionado e cadeiras. O tecido preto cobre quase todo o cinema, que tem os muros com pintura já gasta. Quem olha para o lugar em dia de festival não imagina que  a boa acomodação oferecida ao público  não esteja presente na área restrita aos espectadores. Subindo as escadas, é possível encontrar pedaços de madeira, pó e escuridão.                  
     Com lotação para 500 lugares, há plateias que enchem as salas ou podem ocupar ¼ de sua capacidade. Muitos filmes são abandonados na metade, mas para o critico de cinema, Cleber Eduardo, é uma reação comum, isto porque a mostra de cinema não tem como obrigação exibir filmes fáceis de serem digeridos. Para o público que estuda  ou aprecia cinema, existem as oficinas de audiovisual e debates, que estão voltados à discussão de significados e produção de filmes. A estudante de artes visuais Aline Mota  que não conseguiu se inscrever a tempo para a atividade, diz acreditar na importância social do Cine Santa Tereza, mas não acredita na abertura do cinema além dos cinco dias previstos. "Para abrirem este espaço seria preciso investir muito dinheiro e divulgarem bastante", explica.
Exibição no Cine Santa Tereza
 Em 2007, o projeto de restauração do Cine Santa Tereza concorria com outras obras da região a recursos do Orçamento Participativo Digital (OPD) da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). A proposta para transformação do Cine Santa Tereza em centro cultural, na época, tinha superado a fase de desapropriação do imóvel, havendo a indicação do Conselho do Patrimônio Municipal para o tombamento. Estava previsto que projeto passaria por licitação e que incluiria adaptações no edifício e construção de biblioteca, cinema, teatro, café, além de espaço para eventos.

Cinema minutos antes da exibição de "A Cópia Fiel"

Fachada do Cinema


Interior do Cine Santa Tereza
Público confere a programação do CineBH

 Fotos: Rebeca Penido e Laura Zschaber

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O SONHO ACABOU(?)


          Donada. Foi assim que os alunos do prédio 13 ficaram sabendo que o informativo mensal deixaria de circular. Deixado na mesa da biblioteca, nos corredores ou repassado depois de lido, desde o começo do semestre a Nonada não circula mais pela universidade.  A última edição está datada com os meses de janeiro, fevereiro e março. Deste então, nenhuma explicação a respeito. Pelos burburinhos dos corredores, muitos ficaram sabendo e outros nem sentiram falta da dita cuja.
Nonada: Is this the end?
    O estudante de Comunicação Social, Carlos Henrique Pinheiro, mais conhecido como Caíque conta que quando soube do término da revista ficou decepcionado, “Fui perguntar para o professor Haroldo [Marques, editor] porque não conseguia encontrar a Nonada, isto porque um dos lemas da revista é 'quem procura tem preferência' ", relata. Entre os órfãos da revista, estão o estudante Guilherme Reis e a estudante Paula Motta que gostava de ler o informativo e acredita que o periódico tinha uma boa qualidade. "O design era  interessante e a gente podia fazer coleção." Isto porque cada Nonada é diferente da outra e podem até conversar entre si. 
   A Nonada é custeada pelo dinheiro da própria PUC e tem como objetivo  estimular e contribuir para a formação de seus leitores. Se o seu fim não é dado como certo, ao menos pode-se dizer que  a incerteza frusta muitos de seus apreciadores. "Estava acostumado a encotrar o meu exemplar na biblioteca", conta o estudante Guiherme. Responsável pela Secretaria de Assuntos Comunitários da Universidade, o professor Bonifácio Teixeira disse que a “Pérolas para poucos” nunca deixou de circular. O que houve de fato, segundo explicação, foi um hiato para replanejar a revista quanto à tiragem, já que muita gente deseja ler a revista. Surpreso com a resposta, o editor da Nonada, Haroldo Marques garantiu que tem projeto pronto para a próxima edição impressa e que caso a indefinição continue, a pubicação pode migrar para o online, fim comum para muitas publicações.


Para cantar junto a "ausência" do Nonada, clique aqui.

Lembrete:
No dia 9, comemora-se o 70º aniversário de John Lennon

Mais:
Na falta de uma, tem outra Nonada - esta dedicada ao Jornalismo.

sábado, 25 de setembro de 2010

HÉLIO OITICICA EM INHOTIM


Desde que sua casa foi destruída pelo fogo, e com ela grande parte de suas obras, Hélio Oiticica voltou a marcar presença nos jornais. Autor da imagem que inspirou este blog (acima), o artista carioca ganhou um pavilhão em Inhotim dedicado as cinco Cosmococas, instalações que mesclam música e imagem e que podem ser entendidas a partir do contato lúdico entre espectador e obra. O conceito de instalação, como explica o estudante de artes visuais Felipe Saldanha é o de um espaço em que o público pode interagir com as obras de arte como se estivesse dentro delas. Saldanha trabalha em Inhotim e explica que dentro do pavilhão de Oiticica “é possível deitar, interagir, observar e até lixar as unhas”, brinca. Ou seja, interagir é a palavra de (des)ordem.
Apaixonado por Hélio Oiticica, Marina Castro aguarda ansiosa para ir ao museu.  “Cosmococas para mim é uma liga entre o inconsciente do espectador e o lidar do artista com obra, uma das características de Oiticica que tem obras bastante interativas”, explica.  Cosmococas é um trabalho concebido nos Estados Unidos em parceria com o cineasta brasileiro Neville D’Almeida e conta com uma imagem de Jimi Hendrix retocada por linhas de cocaína.
Um dos mais importantes artistas da década de 50, Oiticica participou do movimento neoconcretista junto com Amílcar de Castro, Ferreira Gullar e Lygia Clark. Seus trabalhos foram expostos em museus famosos e dentre todo o seu acervo, suas criações mais conhecidas -e divertidas- são os parangolés, que parecem capas e devem ser vestidas.
Oiticica, conhecido também por inspirar o movimento Tropicália, já é visto como motivo para muitos artistas e estudantes darem um rolê por Inhotim. Arnaldo Antunes, cantor e poeta que se serve de elementos da Tropicália e do neoconcretismo foi visto circulando na vernissage de Oiticica em Inhotim.

Para conhecer mais sobre H.O., clique aqui ou assista:

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PUBLICAM-SE LIVROS

Che Guevara lendo Roubada Americana. Sacou?!
    Desde que começou a escrever, aos nove anos de idade, Isabella Sousa sonha em publicar um livro de contos e poesias que versam sobre a sua adolescência. “Nunca pude lançá-lo porque não tenho dinheiro para isto. Publicar é muito caro.” A menina de 14 anos que ainda não tem fundos para bancar o projeto, assina seus textos em um fórum com amigos na internet, mantêm suas postagens regularmente e garante já possuir leitores cativos de seus textos.
      Se para Isabella, a publicação de livros é a realização de um sonho, outros autores conseguiram materializá-lo por meio de empréstimos ou com o dinheiro do próprio bolso. Algumas gráficas em Belo Horizonte apresentam em sua lista de serviços a publicação de livros de autores sem vínculos às editoras, como o caso da gráfica Belo Horizonte que publicou as quatro últimas edições de “Meu Coração Bate do Lado Direito” do estudante Vicente de Paula Júnior. Depois de conviver 31 anos com o diagnóstico de uma doença rara chamada Situs inversus totalis, este mineiro de Montes Claros, no Norte de Minas, decidiu compartilhar sua visão com desconhecidos a respeito de ter todos os órgãos do corpo funcionando do lado contrário.
    Escritor há cinco anos, Vicente de Paula diz que não encontrou dificuldades em publicar seu livro. O processo segundo ele foi bem simples. Primeiro, apresentou os rascunhos na Imprensa Oficial de Minas Gerais e depois contratou os serviços da gráfica. Com 7.500 exemplares vendidos, Vicente distribui os livros em restaurantes pela cidade e pretende comemorar a marca dos 8.000 livros vendidos.
    Tão importante quanto a publicação, a distribuição também é complicada para estes autores. Fazer o livro chegar às mãos do leitor de acordo com o jornalista Luiz Antônio Cabral é difícil. Autor de um livro de memórias sobre uma viagem de intercâmbio aos Estados Unidos, o seu “Roubada Americana” é vendido principalmente para os amigos e familiares. Ele conta que deixou alguns exemplares para serem vendidos por consignação, mas que desde que os entregou à livraria, nunca mais voltou para buscar o valor arrecadado.
    Como na indústria fonográfica, que embora tenha democratizado suas ferramentas, mas ainda necessita de alguém de peso para bancar o projeto, a indústria editorial movimenta bilhões por ano. Só em 2009 foram cerca de quatro milhões de reais segundo pesquisa patrocinada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Há projeções de crescimento significativo, pois o estudo compara que entre os anos de 2008 e 2009, o mercado cresceu 2,13%. Deste montante, a maioria são os livros didáticos e as chamadas obras gerais, isto é, de literatura.
    Aos 36 anos, Vicente planeja lançar mais dois livros, um de romance e outro destinado a motivar as pessoas, de auto-ajuda. Para ele, a inspiração de escrever vem do desejo de levar as pessoas a ter novos conhecimentos por meio da leitura de um texto seu. Aliás, fazer o livro chegar às mãos de outros é sentimento comum entre todos os autores, dos sem editora até os respeitáveis participantes da FLIP.