"À margem do que se possa aparecer"

"À margem do que se possa aparecer"
Vida de gado, Zé Ramalho

sábado, 25 de setembro de 2010

HÉLIO OITICICA EM INHOTIM


Desde que sua casa foi destruída pelo fogo, e com ela grande parte de suas obras, Hélio Oiticica voltou a marcar presença nos jornais. Autor da imagem que inspirou este blog (acima), o artista carioca ganhou um pavilhão em Inhotim dedicado as cinco Cosmococas, instalações que mesclam música e imagem e que podem ser entendidas a partir do contato lúdico entre espectador e obra. O conceito de instalação, como explica o estudante de artes visuais Felipe Saldanha é o de um espaço em que o público pode interagir com as obras de arte como se estivesse dentro delas. Saldanha trabalha em Inhotim e explica que dentro do pavilhão de Oiticica “é possível deitar, interagir, observar e até lixar as unhas”, brinca. Ou seja, interagir é a palavra de (des)ordem.
Apaixonado por Hélio Oiticica, Marina Castro aguarda ansiosa para ir ao museu.  “Cosmococas para mim é uma liga entre o inconsciente do espectador e o lidar do artista com obra, uma das características de Oiticica que tem obras bastante interativas”, explica.  Cosmococas é um trabalho concebido nos Estados Unidos em parceria com o cineasta brasileiro Neville D’Almeida e conta com uma imagem de Jimi Hendrix retocada por linhas de cocaína.
Um dos mais importantes artistas da década de 50, Oiticica participou do movimento neoconcretista junto com Amílcar de Castro, Ferreira Gullar e Lygia Clark. Seus trabalhos foram expostos em museus famosos e dentre todo o seu acervo, suas criações mais conhecidas -e divertidas- são os parangolés, que parecem capas e devem ser vestidas.
Oiticica, conhecido também por inspirar o movimento Tropicália, já é visto como motivo para muitos artistas e estudantes darem um rolê por Inhotim. Arnaldo Antunes, cantor e poeta que se serve de elementos da Tropicália e do neoconcretismo foi visto circulando na vernissage de Oiticica em Inhotim.

Para conhecer mais sobre H.O., clique aqui ou assista:

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PUBLICAM-SE LIVROS

Che Guevara lendo Roubada Americana. Sacou?!
    Desde que começou a escrever, aos nove anos de idade, Isabella Sousa sonha em publicar um livro de contos e poesias que versam sobre a sua adolescência. “Nunca pude lançá-lo porque não tenho dinheiro para isto. Publicar é muito caro.” A menina de 14 anos que ainda não tem fundos para bancar o projeto, assina seus textos em um fórum com amigos na internet, mantêm suas postagens regularmente e garante já possuir leitores cativos de seus textos.
      Se para Isabella, a publicação de livros é a realização de um sonho, outros autores conseguiram materializá-lo por meio de empréstimos ou com o dinheiro do próprio bolso. Algumas gráficas em Belo Horizonte apresentam em sua lista de serviços a publicação de livros de autores sem vínculos às editoras, como o caso da gráfica Belo Horizonte que publicou as quatro últimas edições de “Meu Coração Bate do Lado Direito” do estudante Vicente de Paula Júnior. Depois de conviver 31 anos com o diagnóstico de uma doença rara chamada Situs inversus totalis, este mineiro de Montes Claros, no Norte de Minas, decidiu compartilhar sua visão com desconhecidos a respeito de ter todos os órgãos do corpo funcionando do lado contrário.
    Escritor há cinco anos, Vicente de Paula diz que não encontrou dificuldades em publicar seu livro. O processo segundo ele foi bem simples. Primeiro, apresentou os rascunhos na Imprensa Oficial de Minas Gerais e depois contratou os serviços da gráfica. Com 7.500 exemplares vendidos, Vicente distribui os livros em restaurantes pela cidade e pretende comemorar a marca dos 8.000 livros vendidos.
    Tão importante quanto a publicação, a distribuição também é complicada para estes autores. Fazer o livro chegar às mãos do leitor de acordo com o jornalista Luiz Antônio Cabral é difícil. Autor de um livro de memórias sobre uma viagem de intercâmbio aos Estados Unidos, o seu “Roubada Americana” é vendido principalmente para os amigos e familiares. Ele conta que deixou alguns exemplares para serem vendidos por consignação, mas que desde que os entregou à livraria, nunca mais voltou para buscar o valor arrecadado.
    Como na indústria fonográfica, que embora tenha democratizado suas ferramentas, mas ainda necessita de alguém de peso para bancar o projeto, a indústria editorial movimenta bilhões por ano. Só em 2009 foram cerca de quatro milhões de reais segundo pesquisa patrocinada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Há projeções de crescimento significativo, pois o estudo compara que entre os anos de 2008 e 2009, o mercado cresceu 2,13%. Deste montante, a maioria são os livros didáticos e as chamadas obras gerais, isto é, de literatura.
    Aos 36 anos, Vicente planeja lançar mais dois livros, um de romance e outro destinado a motivar as pessoas, de auto-ajuda. Para ele, a inspiração de escrever vem do desejo de levar as pessoas a ter novos conhecimentos por meio da leitura de um texto seu. Aliás, fazer o livro chegar às mãos de outros é sentimento comum entre todos os autores, dos sem editora até os respeitáveis participantes da FLIP.